Saudade
Circula-me nas veias a saudade de quem já não existe mas que ainda aqui está. Alguém que me faz padecer para além da saudade. Saudade que por vezes impede-me e outras dá-me um sopro para avançar em busca do que me faz falta.
Saudade que doí, saudade que destrói.
Saudade que constrói ideias de vida sem vida vivida.
Faz mexer e remexer sentimentos de amor e de dor, sentimentos de júbilo e de mágoa. Tempos antigos mas não passados, tempos imortais que levam-me a investir sobre a nostalgia de um passado ainda sem começo.
Que presente este sem passado que me ilude a viver de saudade. Existe mais a intenção de gritar bem alto do que estar no sossego da presente saudade. Devasta por dentro mas fixa por fora um aparente bem-estar de ilusão própria da presente vida. Vida que traz do passado tempos do presente, que mais parecem novos sentimentos sem a nostalgia daquele passado onde estive, mas que não desembarquei, para que no futuro não houvesse esta saudade e nostalgia de um amor, ou dor, que me recuso a admitir e a observa-lo a atravessar o meu presente, que tento preservar sem o passado mas que no mínimo deveria deixar-me saudade.
Manifesta-se o desalinho das acções presentes que parar no passado passa a ser obrigação. É onde sugo a força de alguém que já não existe, mas que sempre presente, ensinou-me a viver esta merda de vida do presente, sem passado e de incógnitas futuras.